O martelo e os pregos

2 de março de 2011

Fran Papaterra

Já que Augusto concordou comigo que, na maioria das vezes, o Facebook carrega irrelevâncias, quero aproveitar este espaço para compartilhar um pensamento. Quando surgiu a internet e foram ficando claras as facilidades que ela traria, se falou um resultado para o fenômeno que, pouco tempo depois desapareceu da pauta: disponibilizar mais tempo aos humanos para o lazer.

Não só quero resgatar esta profecia não realizada, como quero mostrar que aconteceu o contrário e, ainda, fazer um diagnóstico. Começo pelo contrário. E começo de um ponto de vista privilegiado pois, quando surgiu o primeiro Blackberry e vi um amigo (hoje ex-amigo porque perdi o contato totalmente talvez por conta do Blackberry) com um deles tomei uma decisão. Decidi e cumpro até hoje que não receberia e-mail exceto em um desktop. Decidi que comunicaria minha decisão a amigos, parentes, fornecedores e clientes de maneira a eles saberem que não contariam comigo plugado 100% do meu tempo. Este pessoal sabe também que desligo meu telefone celular após as 20 horas em dias de semana e o dia inteiro aos sábados, domingos e feriados. Continuo vivo, meu negócio continua bem e, creiam, sou bem feliz.

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Catch as catch can

24 de fevereiro de 2011

Fran Papaterra

Para vocês verem como a comunicação instantânea é superficial, quase não merece o nome de comunicação, esclareço que iniciei este debate afirmando que tenho dificuldade de frequentar o Facebook e acabei sendo visto como um inimigo da internet.

Inicio este texto afirmando que vivi, sei lá, 45 anos sem internet e adorei a novidade. Não sou daquelas pessoas que se autodefinem como “quem tem dificuldades com botões”.

Escrevi “autodefinem” junto porque pesquisei no dicionário on line as regras de hifenação que, de tanto mudarem, não sei mais. Estou escrevendo em um blog. A substituição da carta pelo email é uma maravilha.

Vivi anos em escritório com “Comunicados Internos”, para quem não viveu, um pedaço de papel com o logo da empresa no topo e em seguida um “de:” onde você punha seu nome e abaixo um “para:” onde você punha o nome do destinatário. Mais abaixo havia pré-escrito (aqui cabe hífen) “c.c:” onde você escrevia o nome de quem queria que também lesse.

Este documento era colocado na caixa de saída de sua mesa, que era literalmente uma caixa de madeira que se prendia à sua caixa de entrada por duas hastes que permitiam que elas ficassem uma sobre a outra com uma diferença de alguns centímetros de altura e outros centímetros de defasagem horizontal. Isto permitia a entrada e saída de papéis em ambas. Um office boy interno (isto mesmo: um Office boy interno) passava regularmente pelas mesas e recolhia os Comunicados Internos. Se havia nomes após o “c.c:”, ele ia à copiadora e copiava os papéis na quantidade exigida. Seu memorando era enviado para uma Central de Distribuição (sim existia uma Central de Distribuição de memorandos internos) e classificados, na mão, por ordem de “para” e de “c.c”.  Sabe-se lá quando depois o office boy recolhia os Comunicados Internos já classificados por destinatário e ia colocando os respectivos nas respectivas caixas de entrada. Dois ou três dias para este processo todo era considerado excelente. Como reclamar do email?

E o email com anexo? Eu faço canções, mas não sei tocar bem o suficiente nenhum instrumento. Gravo voz e violão em um MP3, escrevo um email dizendo como imagino o arranjo e envio, o email e o arquivo de MP3 em anexo, a um grande músico meu amigo. Ele faz o arranjo, envia para outros músicos do mesmo jeito e alguns dias depois eu recebo minha canção toda gravada pela internet. No fim de semana vou a um estúdio gravo a voz e vou tomar uma cerveja com meu amigo músico. Este processo demoraria meses sem a internet. Acho que nem aconteceria.

OK? Nada contra a internet, pelo contrário, muito a favor. Agora, o Facebook me parece pura perda de tempo. Deve haver exceções, mas por favor, não justifiquemos a perda de tempo com o Facebook com exceções. Se a internet nos deu tempo para enviar emails em segundos ao invés de dias com o Comunicado Interno, nos permitiu gravar canções remotamente e super rápido, aproveitemos o tempo para tomar uma cerveja com o amigo músico e não para postar coisas como a que recebi hoje e só abri para ter elementos para este post: uma luta de catch as cath can acho que na Argentina na qual um lutador gordo dá uma voadora em um anãozinho vestido de macaco.

Não é de se estranhar que risada na Facebook seja rs ou he he he. Isto não é risada!

 

Augusto Pinto

O propósito (um deles) deste blog é mostrar que toda opinião merece ser respeitada e que todo fato na maioria das vezes tem, no mínimo, duas interpretações  diferentes. Daí a pegada polêmica que eu e o Fran procuramos dar em nossos posts… a ideia é essa mesma.

Mas, agora que o Fran explicou mais detalhadamente o que pensa acerca da Internet e das Redes Sociais, ele “me puxou o tapete” da polêmica. Ou seja, considerados os considerandos do Fran, eu concordo com ele. Também acho o Facebook irrelevante, particularmente pela maneira como a maioria de nós o utiliza: para divulgar non sense entre seus amigos, para pedir ajuda no Farmville, para distribuir fotinhos interessantes (para que envia), exprimir pensamentos e opiniões, etc.

Vale recordar como e para quê o Facebook nasceu: para aproximar os calouros universitários de seus colegas mais seniores (principalmente das meninas), ou seja uma rede de relacionamento fechada. O Facebook nasceu assim, irrelevante, e continua assim, na maioria das vezes.

Porém, sempre é possível tornar úteis até mesmo as coisas mais improváveis. Por exemplo, os penicos abaixo forma utilizados de uma forma criativa e talvez até cheirosa (não conheço as flores plantadas neles).

Eu mesmo, consegui utilizar o Facebook para turbinar meu outro blog (Chega Mais). Através da divulgação no Facebook (o nome técnico desta ação é seeding) eu levei a audiência de meu blog de nada para algo acima de 500 views/dia (665 anteontem). Nesse sentido, para mim o Facebook foi útil.

No mundo corporativo, o Facebook tem sido utilizado com sucesso de muitas maneiras. Olhe esse post que sugere 32 usos corporativos possíveis. Por exemplo:

  • Crie uma Fan Page para divulgar sua empresa ou produto.
  • Use o FB como marketplace.
  • Junte-se a uma rede de interesses profissionais (Facebook alumni groups). h
  • Descubra experts.
  • Use os updates para chamar a atenção sobre coisas interessantes para o público: artigos no seu blog, ou outro qualquer, vídeos no YouTube, apresentações no SlideShare, etc.
  • Se acostume a fazer business updates (cuidado apenas com o “jabá”, procurando sempre pensar na relevância para o público).
  • Etc.

Convencidos? E aí, Fran, vai encarar?

 


Quer ser meu amigo?

3 de fevereiro de 2011

Fran Papaterra

O objetivo deste texto é provocar o Augusto que tem diversos motivos para me contrariar. Com isso, quem nos lê realmente perceberá “um peso e duas medidas”. O tema está relacionado ao fato de que eu não consigo frequentar o Facebook. Nem sequer sei que verbo utilizar para tal prática. Frequenta-se, participa-se, usa-se o Facebook? É verdade que meu batismo na ferramenta foi traumático.

Cadastrei-me e surgiram, fruto de características do meu perfil, velhos amigos. Um deles foi meu colega de classe e meu companheiro em um mortal ataque de futebol de campo, na época que eu possuía joelhos para tal. Escrevi para o sujeito. Para tornar curta uma longa história, encontramo-nos. Bacana, não é? Pois, a sujeito não tem mais nada a ver com meu meia direita predileto, ficou chato, rabugento,  votou no Tiririca, etc.. Minha reflexão é que amizades vêem e vão. As que vêem, bem vindas sejam. As que vão, deixa ir. Há um motivo para elas irem e não será o Facebook que vai resgatá-las.

Até porque, e este é o segundo motivo para o debate do Augusto e eu, a parcela da pessoa que se revela no Facebook é muito pequena. Postam-se fotos felizes, vídeos engraçados, frases inteligentes. Enfim, revelam-se as pingas que o amigo toma e omitem-se os tombos que ele leva.

Para completar, me irrito quando meu email informa que Fulano quer ser meu amigo. Há duas possibilidades: ou ele já é meu amigo e é estranho ele querer ser de novo (sim estou brincando com a língua portuguesa) ou ( e aí já não estou brincando) nem sequer conheço o cidadão. Fica parecido com recreio de criancinhas na escola. Uma se aproxima da outra e sapeca a pergunta: quer ser minha amiga? Sério: amizade cultiva-se, é um processo. Apenas na pré escola se convidam pessoas para serem amigas.

A consequência é que conheço gente que passa o dia pendurado no Facebook e, como a tecnologia trouxe um monte de novidades, mas não adicionou um único segundo na duração do dia, somem do mapa. Acabam perdendo os verdadeiros amigos, aqueles que olham no olho, abraçam, dão gargalhadas, emocionam-se.

Augusto Pinto

Nessa o Fran vai quebrar a cara, porque na verdade eu não discordo tanto dele assim. Talvez, quando ele menciona sua participação em um “mortal ataque de futebol”, eu acrescentaria que ele provavelmente jogava com um 38 pendurado na cintura (daí a expressão mortal).

Quanto ao Facebook, e as redes sociais em geral, eu concordo muito com o Fran. Twitter e Facebook são tentativas canhestras (embora infelizmente muito bem sucedidas) de substituir os gostosos bate-papos por telefone e os happy hours na padaria da esquina. Alem de lamentável é frustrante. Deixamos de conviver com amigos reais no mundo físico, para conviver com amigos fictícios no mundo virtual.

Por outro lado, e isso o Fran não menciona, o Facebook, o LinkedIn, o Twitter, o Flickr e o YouTube, só para citar alguns, nos permitem oferecer conteúdos digitais para os amigos, que não conseguiríamos por telefone, ou mesmo ao vivo numa mesa de bar. Nesse exato instante você leu algo muito legal, viu ou assistiu algo incrível. No mundo real, se você se lembrasse, mencionaria isso para seus amigos do mundo físico, mas eles se esqueceriam da menção e dificilmente teriam a oportunidade de desfrutar daquela coisa bacana que você teria vivenciado sozinho. Na rede social (e lembrem-se, este blog faz parte dela) você simplesmente compartilha com seus “amigos” no ato. Exemplo, ao vivo e a cores, ontem eu compartilhei um conteúdo sensacional com meus amigos do Facebook. Trata-se de uma animação mostrando uma declaração de amor high tech. Confiram e veja se não é legal poder compartilhar na hora com os amigos.

Além disso, Facebook, Twitter, LinkedIn e outras redes sociais nos ajudam também nos relacionamentos profissionais. Através das redes sociais podemos oferecer vagas em nossa empresa e obter currículos de pessoas ultra qualificadas em tempo recorde, podemos fazer relacionamento e atendimento de clientes (SAC no Twitter é uma hype), podemos promover nossa marcas e nossos produtos, podemos debater tendências, participar em grupos e forums de discussão, enfim, compartilhar, colaborar e interagir diretamente, e em tempo real, com clientes, prospects, parceiros e fornecedores. É bacana, ou não é?

E aí, Fran, vai encarar?


Inveja, a mãe de todos os pecados

20 de dezembro de 2010

Augusto Pinto

Recentemente li uma fábula, supostamente Indiana, de autor desconhecido. Vou repetí-la para vocês, pois é muito instrutiva.

“Numa noite de lua, lá ia o vagalume, voando e iluminando seu caminho. Mais abaixo uma serpente o seguia, incansável. De repente, o vagalume notou a perseguição obstinada, mas continuou seu vôo, certo que cedo ou tarde a serpente desistiria. Ledo engano. As horas se passavam e metodicamente a serpente se arrastava abaixo do vôo do vagalume. Aos poucos as asinhas de nosso amigo começaram a pesar e o mêdo tomou conta de seu coraçãozinho: a serpente é mais forte que eu e vai acabar me devorando, pensou o bichinho. Mesmo assim, continuou voando, até o limite de suas forças. Quando não podia voar nem mais um metro, pousou ao lado da serpente e fez um pedido, humildemente:

– Dona serpente, já que é certo que serei devorado, pelo menos me dê uma satisfação, me explique o porquê de sua obssessão. Por acaso os vagalumes pertencem à cadeia alimentar das serpentes?

– Não, respondeu a cobra.

– Então será que você me odeia, por alguma razão.?

– Também não, respondeu a cobra.

– Você então está faminta?

– De jeito nenhum.

– Mas, então porquê você quer me devorar???”

– Porquê você brilha!

Por isso, amigo injustiçado (e quem não é?), cuidado com seu brilho. Faça sempre o melhor que possa, o tempo todo, mas tente não aparecer muito, pois a inveja literalmente mata.

 

Fran Papaterra

Aproveito a deixa do Augusto para comentar o significado que brilho adquiriu recentemente. Pensemos nas assim chamadas celebridades. Muitas pessoas são célebres porque são célebres. Há um tipo de gente que gosta de sair na revista Caras. Não tenho nenhuma fonte segura, mas parece que há, em Caras, muito publi-editorial, entendido este termo composto como a matéria com cara de editorial, mas que é paga, o que a caracteriza como publicidade.

Quando a revista foi lançada eu, que gostaria de ter uma revista com o nome Cérebros, supus um fracasso comercial. Como o vagalume da parábola do Augusto: ledo engano. Não só Caras é um sucesso como muitas outras revistas parecidas foram lançadas e continuam por aí.

Interessante a onipresença de Caras em salões de cabeleireiros. Nos templos da futilidade, da aparência acima de tudo a “literatura” (não deixa de ser, no sentido, perdão, literal da palavra) que impera é Caras.

Eu que ando muito a pé e corro pelas ruas, quase que diariamente, peguei a mania de ler as capas de Caras nas bancas de revista. Sou informado de que acabou o casamento de duas pessoas sobre as quais nunca ouvi falar, com quem Hebe Camargo jantou e onde Adriane Galisteu passou as férias.

Sobre as férias, tenho uma história ótima. Fui , acho que, a Portillo esquiar uns anos atrás. De repente, em uma colina, bem no alto, havia um aparato cinematográfico: câmaras, luzes, equipes, fios e …. a Tiazinha, naquela época uma celebridade e hoje, sem a necessidade de nenhuma serpente a devorá-la, sem o antigo brilho e limada da pauta da gloriosa Caras. Mas, na época Tiazinha causava inveja a várias serpentes. Porém Tiazinha não sabia, ou não queria esquiar. As tomadas de cinema não eram para cinema, eram para fotografia. Nossa mascarada (lembram-se? Ela usava máscara tipo Zorro.) estava sendo fotografada para Caras. Fazia posição de quem ia descer a pista e clique nela. Fazia trejeitos de quem estava descendo a pista e fotografada era. E assim foi até que me desinteressei. Esqueci o assunto e um dia, retido por um sinal vermelho em algum ponto de Pinheiros, li na capa de Caras: Tiazinha esquia em Portillo.

Esquiar, não esquiou: sou testemunha. Mas, lembro que, no fim da tarde, li no hotel de Portillo que haveria aula de yoga e para a aula de yoga lá fui eu. Quem estava na sala? Quem respondeu Tiazinha, acertou. Lá estava ela, sem máscara, com um colant (é assim que se escreve?) a fazer jus ao nome de tão colado ao corpo que estava, mas, isto não era nada. Tiazinha não esquiava, mas, meu caro leitor, Tiazinha era ótima (não só) de yoga. As posições que ela sabia (e ainda deve saber, pois deixar de ser celebridade não apaga alguns dons) eram de fazer babar qualquer serpente….


A bola não é o jogo

24 de novembro de 2010

Fran Papaterra

A Jabulani saiu mais famosa da última copa do mundo do que muitos craques do time campeão. Nem por isso o público confundiu a bola com o jogo, embora muitos técnicos, inclusive nosso Dunga, culpassem a Jabulani (levinha e imprevisível) pelo má técnica de alguns de seus jogadores.

No entanto, em se tratando de comunicação corporativa, é muito comum entender-se por “apresentação” o que deveria ser entendido apenas como “o arquivo de PowerPoint”. Muita gente diz “a apresentação está pronta” quando o que deveria dizer seria “o arquivo de PowerPoint a ser utilizado na apresentação está pronto”. Esta sutileza permitiu o surgimento de agências que apenas embelezam slides de PowerPoint, mas que “vendem apresentações de negócios”.

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Samba do Crioulo Doido

9 de novembro de 2010

Fran Papaterra

Sérgio Porto talvez não seja conhecido dos mais novos, mesmo se eu revelar o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta. Este cronista escreveu o Samba do Crioulo Doido, supondo um ignorante escrevendo um samba enredo sobre a história do Brasil. A letra da música é uma bagunça e, mesmo quem não ouviu falar do autor, talvez tenha ouvido falar de Samba do Crioulo Doido como uma analogia a um raciocínio tortuoso.
Apresentações com PowerPoint parecem muito com o referido samba. O crioulo do Stanislaw era doido e isto explica, já no título da canção, a bagunça. Como quem prepara arquivos de PowerPoint é aparentemente são, precisamos encontrar outros motivos para ser cabível a comparação do resultado. Baseio-me em um arquivo anônimo que recebi pela Internet.
O tema é reduzir o consumo de água engarrafada. Precisei estudar muito o conteúdo, porque se trata de um Samba do Crioulo Doido. Cheguei à conclusão que há três motivos para se reduzir o consumo de água engarrafada e todos sugerem que este consumo faz mal às pessoas:

  1. Água engarrafada é cara
  2. O meio ambiente é prejudicado
  3. É possível que cause câncer

Pois o samba está distribuído assim:

  1. Água engarrafada é cara – slides 4, 5, 12, 13 e 14.
  2. O meio ambiente é prejudicado – slides 6, 7, 8, 9, 10, 14, 15 16, 17 e 20.
  3. É possível que cause câncer – slides 5, 14, 18 e 19

Toma-se o assunto, abandona-se o assunto e se retorna a ele. No slide 5 foi afirmado que água engarrafada pode causar câncer. Quem estiver prestando atenção, ficará curioso, pois o assunto é abandonado e se reaparece no slide 14. Desperdiçou-se a curiosidade de quem assistia à apresentação.
Vou explicar a doidice do executivo com um único diagnóstico: pensar por slides.
O PowerPoint tem um mérito enorme sobre o flash: não só os slides podem mudar de ordem como novos podem ser inseridos e outros podem ser eliminados. Em outras palavras, é fácil editar e aí mora o perigo. Já que é fácil, se descuida e a lógica fica sacrificada. Quem consegue prestar atenção em algo que muda de assunto e volta aleatoriamente?
O fato é que pensar por slides quase que proíbe que se utilize técnicas de narrativa, que se contem uma história.  Sem o uso do PowerPoint, eu diria que você não deve consumir água engarrafada porque:

  1. Este consumo pode causar câncer. O calor pode liberar produtos químicos da garrafa para a água. Como você não sabe em que temperatura a garrafa foi transportada, pode ser que você venha a ter câncer.
  2. O meio ambiente paga pela água engarrafada que você consome. Só nos Estados Unidos vão para a atmosfera 2.500.000 toneladas de dióxido de carbono, devido à fabricação das garrafas plásticas. Lá mesmo são jogadas 24 bilhões de garrafas no lixo.
  3. É muito caro: um americano gasta, em média US$ 400,00 por ano com água engarrafada.

Com o PowerPoint ficou quase impossível saber porque não consumir água engarrafada.

 

 

Augusto Pinto

Bem quem entende de PPT é o Fran, ou melhor, antes que ele me jogue um caminhão de melancias, entende de apresentações bem elaboradas, com boa narrativa e boa qualidade de conteúdo visual. Então eu vou puxar o tema para minha zona de conforto, que é a comunicação corporativa, em particular as conversas pessoa a pessoa, em reuniões de alto escalão.

 

Quando alguém é convidado para um papo com o presidente do conselho, com o CEO, ou com o C-Qualquercoisa, logo se prepara para uma conversa elaborada, ponteada por citações inteligentes, conceitos sugeridos de forma indireta, ou seja, uma conversação que, otimisticamente, será cheia de voltas, firulas e meneios. Algo que faria o Stanislaw se orgulhar de sua criação.

 

Porém, o que muitas vezes ignoramos, é que o C-level só chegou lá graças à sua objetividade e espírito prático. Via de regra são pessoas simples, com hábitos simples, de bem com a vida e que curtem tentar sempre transformar seu dia a dia tenso em algo divertido.

 

Ontem almocei com um executivo, com MBA em Harvard e doutorado em Duke, que nos últimos dez anos montou e vendeu vários negócios, tendo abocanhado ao longo da década algo em torno de uns R$ 200 milhões! Fui preparado para uma conversa sofisticada e densa. Para minha surpresa, da salada ao cafezinho o papo foi leve, ponteado de brincadeiras e piadas. Falamos de futebol, da Dilma, da internet e até de seus negócios. Enquanto eu esperava o manobrista trazer meu carro, o executivo embarcou num taxi velho, sem ar condicionado.

 

Se deixarmos de lado os estereótipos, vamos descobrir que do porteiro ao CEO, somos todos iguais. Ninguém gosta de conversa fiada, nem de formalismo excessivo e muito menos de verborragia. Num almoço de negócios, como numa reunião face to face,  existe um ritual que agrada a todos. Esse ritual recomenda que não nos afobemos em entrar no assunto de nosso interesse, nem sufoquemos nosso interlocutor com uma tonelada de informações, onde provavelmente 999 kilos são bullshit.

 

Um encontro de negócios bem sucedido é o coroamento de uma estratégia baseada na paciência. Lembra muito um primeiro encontro com a garota de seus sonhos. É preciso ter calma. Ouvir bastante, falar dentro do contexto, procurar ser educado, agradável e divertido, até surgir a brecha para encaixar o assunto de seu interesse, desejavelmente colocado pelo nosso interlocutor.

 


I want to hold your hand

27 de outubro de 2010

Fran Papaterra

Li uma entrevista do Paul McCartney na qual ele diz que, no começo dos Beatles, ele e o John Lennon deliberadamente usaram muito a palavra “você”, “you” no caso. Faziam isto porque as fãs sentiriam que a canção era para elas.

Não podemos esquecer que, por trás dos Beatles, havia um homem de negócios de nome Brian Epstein. Quando este cidadão morreu o negócio Beatles degringolou. Espertos, os Beatles e o Brian Espstein ainda punham a primeira pessoa do singular nas canções para ficar mais íntimo ainda. E, então, tivemos I want to hold your hand, From me to you, She loves you, PS I love you, I wanna be your man, If I fell, I call your name, I am happy just to dance with you.

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Contar e relatar

20 de outubro de 2010

Augusto Pinto

“Quem conta um conto, aumenta um ponto”, como diz o velho ditado. Por trás dessa frase a sabedoria popular: realmente, quando contamos algo botamos nossa imaginação para funcionar, pois um conto para merecer esse nome precisa ser interessante.

Quando o sargento pede ao soldado que “relate os fatos”, ele não quer enrolação, apenas o que realmente interessa. Já quando um amigo, com uma cervejinha à sua frente, lhe pede para contar uma história, está esperando que você o distraia.

Isso quer dizer que quando contamos algo devemos inventar? NÃO! Mas, quem conta vai um pouco além do simples relato dos fatos, pois coloca alegorias e hipérboles (bonita essa, hein) na sua narrativa, visando torná-la interessante para seu público.

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Comunicando para surdos

29 de setembro de 2010

Augusto Pinto

Imagine-se à frente de uma platéia de surdos para comunicar uma mensagem complicada. Pra tornar ainda mais difícil, imagine que você não tem disponíveis um projetor e os confortáveis PPT’s. Difícil, hein?

De certa forma é isso que está acontecendo nesse exato momento no Brasil. A mídia, em massa, nas última semanas caiu de pau sobre a Dilma e seu ventríloquo (o Lula), com base nos escândalos, quase diários, e no medo do controle da mídia (uma situação parecida com a da Venezuela, ou da Argentina) pelo próximo presidente. As últimas três ou quatro capas da  Veja foram sobre corrupção no governo federal, o Estadão em editorial declarou sua preferência pelo Serra (e explicou claramente porque), a Folha que sempre teve um pezinho mais à esquerda tem batido direto e nada disso tem influenciado os eleitores. A mídia está literalmente tentando se comunicar com um público de surdos (seja por ideologia, seja por interesse, ou por simples ignorância).

O mesmo tipo de problema as empresas encontram em sua comunicação corporativa, sempre que precisam vender uma ideia nova, ou antipática, que mexa com interesses arraigados, ou que simplesmente seja difícil de explicar (quebra de paradigmas). O público corporativo, colaboradores e clientes, nessas circunstâncias se comporta exatamente como o eleitorado do Lula (e Dilma, por tabela): não ouve, ou não quer ouvir. O que fazer a respeito?

A fórmula é muito simples, a mesma que se tivesse sido seguida pela oposição teria evitado o possível constrangimento de uma derrota no primeiro turno: fale a linguagem de seu público, desça até ele. Evangelização é um exercício de humildade. Vocês já devem ter lido, ou pelo menos certamente ouvido, as parábolas de Cristo, criadas para converter o povo ignorante da época. Cristo falava e explicava suas ideias por analogias. As parábolas nada mais eram do que fábulas para “vender” ideias inusitadas, como por exemplo o “ama ao próximo como a ti mesmo”, para povos que acreditavam e praticavam o “olho por olho, dente por dente”.

As tarefas de evangelização no mundo corporativo são muito mais fáceis do que foi para Jesus vender suas ideias de igualdade e fraternidade para o povo da Galiléia. Apesar disso, as falhas são contínuas e constantes. Qual a razão? A mesma que levou o PSDB a tomar uma sova do PT e aliados: arrogância.

Explicar novos conceitos, ou conceitos que não interessam, é um exercício de humildade, que implica em descer até o nível de compreensão do público e explicar as coisas na sua linguagem. Isso para um CEO é tão tedioso quanto para o Serra explicar porque as privatizações são positivas para o povo. Coloque-se na pele de um funcionário público, ou um sindicalista, a ingrata tarefa que o Serra teria pela frente.

Evangelização é uma tarefa árdua, que requer mais do que didática, paciência e persistência. É mais fácil se omitir, ou simplesmente passar a versão técnica, com casca e tudo, para mais tarde culpar o público, que não entendeu a mensagem porque é burro.

Se você é o CEO de uma empresa e tem que explicar porque os bônus de final de ano não serão pagos, pode acreditar que vai precisar muito mais do que fatos. Explicar que as metas não foram batidas, que a empresa deu prejuízo, que o concorrente foi melhor, são argumentos que não sensibilizam àqueles que vão ter que abrir mão de seus sonhos de Natal. Principalmente, quando eles olham para cima e vêem que a realidade de sócios e c-level não foi afetada com pelos mesmos problemas. Ou seja, acresça aí uma outra palavrinha mágica: coerência.

Fran Papaterra

Há uma famosa história na qual um assessor de marketing de Bill Clinton explica àquele que era um dos homens mais poderoso do planeta o que leva o eleitorado a eleger alguém. A frase era esta, ou parecida com esta: it’s the economy, stupid”. É a economia, idiota.

Não nos iludamos, o ser humano não vale nada. Se a vida dele melhorou, ele vai votar em quem ele identificar, corretamente ou não, que é o político responsável por esta melhora. O que importa é a vidinha dele. Se o cara rouba, se a turma dele se apega a cargos públicos para deles tirar vantagens pessoais, pouco importa. A vida deles melhorou.

Lula sabe que a economia elege e não é idiota. Associou a Dilma a ele e o eleitor quer que a coisa siga como estava. É a metáfora do “em time que está ganhando não se mexe”. Por isto, José Serra hesitou em atacar Lula. O time estava ganhando.

O que aconteceu foi que Lula tinha uma mensagem única e simples: Dilma é a continuidade. Serra, por sua vez, ficou com muitas mensagens que é muito parecido com não ficar com nenhuma. Já a Marina….

Marina tinha a mensagem do verde, da ecologia, do planeta limpo. Atingiu um determinado patamar de intenção de votos. Quando a continuidade do Lula soou para alguns ouvidos (os menos surdos da metáfora do Augusto) como a continuidade da corrupção, da impunidade, esta população ficou órfã e passou a querer mudança. Olhou para o Serra e viu Eduardo Azeredo envolvido no “mensalão” a ponto de ser o criador do Marcos Valério, viu compra de votos para reeleger FHC, viu dinheiros esquisitos nas privatizações e encontrou na Marina uma segunda mensagem: a ética. O resultado é que a Erenice faz Dilma cair, Serra ficar onde estava e Marina crescer.

O que eu quero chamar atenção com os parágrafos acima é da importância da simplicidade na comunicação. Ninguém consegue processar muita informação, principalmente se ela for complexa. Quebra de sigilo fiscal é complicado para o eleitorado da Dilma. Corrupção, nepotismo, cara de pau é simples.

Parece óbvio, mas seria se todos observassem a máxima a seguir: ninguém aceita aquilo que não entende. Pelo contrário: por mais benefício que possa trazer, se não houver entendimento, há rejeição.


Não mate o mensageiro

13 de setembro de 2010

Augusto Pinto

Eu estou terminando de ler (de um só fôlego), a trilogia da série “O Conquistador”, de Conn Iggulden. Se estiver curioso faça o download do 3o. livro da série e o melhor deles. A série narra a saga da vida de Genghis Khan, um conquistador implacável. Gengis, valorizava muito os mensageiros, que às vezes tinham que atravessar o deserto para dar uma mensagem que cabia numa simples frase. Mesmo assim, quando a mensagem era muito ruim, ou quando ela não poderia ser espalhada, Gengis não titubeava em matar o mensageiro na hora.

Não sei se vem daí a história, mas ficou a tradição segundo a qual os arautos das más mensagens merecem a “morte”. Por isso, no mundo corporativo um dos tipos de comunicação que mais assusta ao executivo é aquela que o encarrega de dar uma má notícia. Pode ser a demissão, uma má avaliação anual, explicar porque o cara foi preterido numa promoção, porque seu departamento não vai fazer os objetivos do ano, porque a empresa está perdendo dinheiro, etc, etc, etc, o que não falta no mundo corporativo são as más notícias. As más notícias podem ser passadas para um funcionário, ou para seu superior, em qualquer dos casos é uma autêntica “saia justa”.

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