Augusto Pinto
Imagine-se à frente de uma platéia de surdos para comunicar uma mensagem complicada. Pra tornar ainda mais difícil, imagine que você não tem disponíveis um projetor e os confortáveis PPT’s. Difícil, hein?
De certa forma é isso que está acontecendo nesse exato momento no Brasil. A mídia, em massa, nas última semanas caiu de pau sobre a Dilma e seu ventríloquo (o Lula), com base nos escândalos, quase diários, e no medo do controle da mídia (uma situação parecida com a da Venezuela, ou da Argentina) pelo próximo presidente. As últimas três ou quatro capas da Veja foram sobre corrupção no governo federal, o Estadão em editorial declarou sua preferência pelo Serra (e explicou claramente porque), a Folha que sempre teve um pezinho mais à esquerda tem batido direto e nada disso tem influenciado os eleitores. A mídia está literalmente tentando se comunicar com um público de surdos (seja por ideologia, seja por interesse, ou por simples ignorância).
O mesmo tipo de problema as empresas encontram em sua comunicação corporativa, sempre que precisam vender uma ideia nova, ou antipática, que mexa com interesses arraigados, ou que simplesmente seja difícil de explicar (quebra de paradigmas). O público corporativo, colaboradores e clientes, nessas circunstâncias se comporta exatamente como o eleitorado do Lula (e Dilma, por tabela): não ouve, ou não quer ouvir. O que fazer a respeito?
A fórmula é muito simples, a mesma que se tivesse sido seguida pela oposição teria evitado o possível constrangimento de uma derrota no primeiro turno: fale a linguagem de seu público, desça até ele. Evangelização é um exercício de humildade. Vocês já devem ter lido, ou pelo menos certamente ouvido, as parábolas de Cristo, criadas para converter o povo ignorante da época. Cristo falava e explicava suas ideias por analogias. As parábolas nada mais eram do que fábulas para “vender” ideias inusitadas, como por exemplo o “ama ao próximo como a ti mesmo”, para povos que acreditavam e praticavam o “olho por olho, dente por dente”.
As tarefas de evangelização no mundo corporativo são muito mais fáceis do que foi para Jesus vender suas ideias de igualdade e fraternidade para o povo da Galiléia. Apesar disso, as falhas são contínuas e constantes. Qual a razão? A mesma que levou o PSDB a tomar uma sova do PT e aliados: arrogância.
Explicar novos conceitos, ou conceitos que não interessam, é um exercício de humildade, que implica em descer até o nível de compreensão do público e explicar as coisas na sua linguagem. Isso para um CEO é tão tedioso quanto para o Serra explicar porque as privatizações são positivas para o povo. Coloque-se na pele de um funcionário público, ou um sindicalista, a ingrata tarefa que o Serra teria pela frente.
Evangelização é uma tarefa árdua, que requer mais do que didática, paciência e persistência. É mais fácil se omitir, ou simplesmente passar a versão técnica, com casca e tudo, para mais tarde culpar o público, que não entendeu a mensagem porque é burro.
Se você é o CEO de uma empresa e tem que explicar porque os bônus de final de ano não serão pagos, pode acreditar que vai precisar muito mais do que fatos. Explicar que as metas não foram batidas, que a empresa deu prejuízo, que o concorrente foi melhor, são argumentos que não sensibilizam àqueles que vão ter que abrir mão de seus sonhos de Natal. Principalmente, quando eles olham para cima e vêem que a realidade de sócios e c-level não foi afetada com pelos mesmos problemas. Ou seja, acresça aí uma outra palavrinha mágica: coerência.
Fran Papaterra
Há uma famosa história na qual um assessor de marketing de Bill Clinton explica àquele que era um dos homens mais poderoso do planeta o que leva o eleitorado a eleger alguém. A frase era esta, ou parecida com esta: it’s the economy, stupid”. É a economia, idiota.
Não nos iludamos, o ser humano não vale nada. Se a vida dele melhorou, ele vai votar em quem ele identificar, corretamente ou não, que é o político responsável por esta melhora. O que importa é a vidinha dele. Se o cara rouba, se a turma dele se apega a cargos públicos para deles tirar vantagens pessoais, pouco importa. A vida deles melhorou.
Lula sabe que a economia elege e não é idiota. Associou a Dilma a ele e o eleitor quer que a coisa siga como estava. É a metáfora do “em time que está ganhando não se mexe”. Por isto, José Serra hesitou em atacar Lula. O time estava ganhando.
O que aconteceu foi que Lula tinha uma mensagem única e simples: Dilma é a continuidade. Serra, por sua vez, ficou com muitas mensagens que é muito parecido com não ficar com nenhuma. Já a Marina….
Marina tinha a mensagem do verde, da ecologia, do planeta limpo. Atingiu um determinado patamar de intenção de votos. Quando a continuidade do Lula soou para alguns ouvidos (os menos surdos da metáfora do Augusto) como a continuidade da corrupção, da impunidade, esta população ficou órfã e passou a querer mudança. Olhou para o Serra e viu Eduardo Azeredo envolvido no “mensalão” a ponto de ser o criador do Marcos Valério, viu compra de votos para reeleger FHC, viu dinheiros esquisitos nas privatizações e encontrou na Marina uma segunda mensagem: a ética. O resultado é que a Erenice faz Dilma cair, Serra ficar onde estava e Marina crescer.
O que eu quero chamar atenção com os parágrafos acima é da importância da simplicidade na comunicação. Ninguém consegue processar muita informação, principalmente se ela for complexa. Quebra de sigilo fiscal é complicado para o eleitorado da Dilma. Corrupção, nepotismo, cara de pau é simples.
Parece óbvio, mas seria se todos observassem a máxima a seguir: ninguém aceita aquilo que não entende. Pelo contrário: por mais benefício que possa trazer, se não houver entendimento, há rejeição.