Socialização da comunicação: gente o público fala!

14 de junho de 2010

Augusto Pinto

Repetindo a pergunta de meu último post: qual a diferença entre interagir e socializar? Como disse anteriormente, a interação “esquenta” o público para a socialização. É mais ou menos como começar falando bom dia para o vizinho no elevador, dando uma papinho de prosa na garagem sobre o resultado do futebol, antes de convidá-lo para uma festinha de aniversário em nossa casa. Essa sequência é apenas natural.

Nas redes sociais na Internet, a socialização se dá através dos processos interativos onde há ganho mutuo. No LinkedIn, por exemplo, a empresa que busca um colaborador posta um job. Da outra parte, pessoas buscando recolocações se oferecem, enviando seus currículos. No Twitter, clientes com problemas enviam mensagens a seus fornecedores, que por sua vez postam soluções visando fidelizar sua base. No Facebook empresas de varejo apresentam seus lançamentos e os potenciais clientes opinam a respeito, em troca de vantagens oferecidas. Em todos esses casos o processo de socialização implica num “ganha-ganha” para ambos os lados.

Um detalhe importante da etiqueta das redes sociais é o extremo cuidado que se deve ter com o merchandising. Digamos que um fabricante quer utilizar as redes sociais para melhorar a acessibilidade às bicicletas nas ruas da cidade (ciclovias, pontos de estacionamento). Esse fabricante cria um movimento na rede social para agregar bikers, para pressionar o governo municipal para o provimento de suas necessidades. Se a mesma empresa colocar as fotos de seus produtos (bicicletas) na plataforma social que defende a acessibilidade às bicicletas, imediatamente haverá uma rejeição da comunidade. As pessoas que se abrem nas redes sociais são muito sensíveis às distorções e à exploração de suas intenções originais.

Porém, se o objetivo comercial é o foco, desde o princípio, como por exemplo favoritar um novo lançamento, ou proporcionar o encontro entre empregador e futuro empregado, estará tudo bem. A etiqueta da rede social não foi ferida.

De novo, nada diferente das redes sociais físicas. Se você vai na festa de aniversário de seu vizinho, não é de bom tom que ele tente te vender os produtos de sua empresa. Mas, se o mesmo vizinho te convida para um coquetel de lançamento de um novo produto em sua empresa e você aceita, então você estará preparado (e interessado) numa oferta de negócios.

Nas redes sociais, como na vida real aqui fora (como se o dentro fosse a Internet), o importante é que o objetivo do relacionamento seja claramente estabelecido desde o princípio e que essa regra mutuamente aceita não seja violada.

Fran Papaterra

Se, por acaso você está lendo este texto antes de ler o do Augusto, pare já. Mesmo sem ter escrito o meu, já posso dizer que o dele é melhor. Talvez você possa ler o meu primeiro se você se identificar comigo no preconceito adquirido com relação a redes sociais a partir das observações feitas com adolescentes fúteis. Só para citar um exemplo, existe um blog de três ou quatro meninos tidos como lindos. Não discuto a beleza deles, mas o que eles escrevem nos blogs é uma barbaridade. Posso dizer que o conteúdo se aproxima muito de nada. Pois, são dos blogs dos mais acessados que há. Nulidades assim aumentam meu preconceito com redes sociais e, felizmente, aparece um texto como o do Augusto para minimizar minha visão de futuro sombrio para a humanidade ao pensar que adolescentes de hoje serão decisores do futuro. Conto um caso de como meu preconceito foi alimentado. O caso envolve um amigo.

Este sujeito levou o filho para algum lugar, possivelmente um shopping, e, quando voltou para casa, quis ver se o quarto do menino estava muito bagunçado. Estava, mas não foi isto que lhe chamou a atenção e sim um barulho parecido com pururum que o computador do filho emitiu. Atraído pelo barulho, o pai constatou que o rapaz não saíra do respectivo MSN. Notou também que era grande a quantidade de blz que se escrevia naquela tela. Sabia que blz quer dizer beleza que quer dizer concordo, vamos nessa, tamos aí, sim, etc. Estava a refletir sobre os descaminhos da língua portuguesa quando alguém escreveu perguntando se seu filho estava na frente do computador.

Irônico, respondeu com um blz. Fizeram uma pergunta para ele e o pai impostor respondeu blz. Outros entraram na conversa, se é que se pode chamar isto de conversa. De vez em quando meu amigo digitava blz e nada mais. Ele me jura que passou horas nesta atividade e ninguém descobriu que havia um impostor na rede nem reclamou que o filho do meu amigo sempre escrevia a mesma coisa.

Convenhamos que podemos chamar isto de rede, mas não é possível se aplicar o adjetivo eficaz. Convenhamos também que temos a mania de tomar o particular pelo coletivo ou, em outras palavras, de generalizar. Sim, a rede do filho do meu amigo não leva a nada, mas nela pode se dizer que existem relacionamentos. A ironia da história está na qualidade do relacionamento.

Neste ponto a contribuição do Augusto é relevante, Ele mostra que uma ferramenta que é capaz de criar relacionamentos em seres primitivos, que resumem a vida à quantidade de blz escritos, pois esta mesma ferramenta pode criar relacionamentos de amizade, cultura, negócios.

Imagine que o filho do meu amigo e sua turma gostassem de futebol e que, depois de tantos blz, alguém tivesse a brilhante idéia de perguntar se um membro da turma poderia opinar sobre se a melhora do time do São Paulo se devia ao Fernandão ou ao DNA do grupo perfeitamente identificado com o mata-mata de Libertadores. Palpites seriam dados, alguns blz continuariam a aparecer e, lá pela tantas, alguém deriva do Fernandão para Fernando Pessoa. Surgem três grupos: futebol, poesia e futebol e poesia. Possivelmente, nesta última turma pintasse Armando Nogueira e, otimista que sou, Nelson Rodrigues. De Nelson Rodrigues poderia surgir um grupo que gosta de teatro e meu amigo acabaria assistindo uma excelente peça que, antes de entrar no quarto do filho, ele nem sequer sabia que havia sido montada.